terça-feira, 17 de setembro de 2013

Senado aprova texto base da minireforma eleitoral

Senadores ainda debatem emendas ao texto que define medidas para redução dos custos de campanhas eleitorais


Júnia Gama 
Isabel Braga 
BRASÍLIA — O Senado aprovou nesta segunda-feira o texto base do projeto da minirreforma eleitoral, mas sem mudanças significativas nas regras vigentes, principalmente em relação ao financiamento de campanhas. A principal alteração proposta, que foi derrotada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), era a diminuição do prazo de campanha em um terço. Partidos da oposição se opuseram e o dispositivo foi eliminado. No plenário, o texto recebeu quase 60 emendas, que serão apreciadas no segundo turno da votação.

 O projeto ainda terá de ser aprovado na Câmara para entrar em vigor.
Segundo o relator da matéria, senador Romero Jucá (PMDB-RR), o projeto pretende limitar os gastos com as campanhas e, para isso, estabeleceu um teto de gastos com cabos eleitorais, mas, ao contrário do que queria o PT, não proibiu a prática. O texto limita o aluguel de veículos para trabalhar nas campanhas, proíbe a instalação de placas, faixas e pinturas de muros e proíbe o envelopamento de veículos automotivos. Um dos pontos polêmicos é o dispositivo segundo o qual deixa de ser crime passível de prisão a boca de urna e o uso de alto-falantes no dia da eleição.

O projeto mantém o período das convenções eleitorais de 12 a 30 de junho e estipula o dia 7 de julho como data do início das campanhas. Além disso, reduz para 24 horas o prazo para publicação das atas de convenções — o prazo atual é de 5 dias. O projeto manteve a proibição ao pagamento de multa usando o Fundo Partidário e liberou o uso de imagens externas nas inserções de TV. O texto permite ainda que a suspensão dos repasses de Fundo Partidário para quem tiver as contas desaprovadas seja interrompida no semestre do ano eleitoral.

O texto sofreu diversas críticas, de senadores da base e da oposição, por não tratar a fundo temas de relevância, como o financiamento das campanhas e medidas moralizadoras, como a proibição de contratar cabos eleitorais, o que, na prática, segundo esses parlamentares, possibilita a compra de votos. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) chegou a sugerir que fosse deixado para a próxima composição do Congresso, em 2015, formular a reforma.

— Temos que pedir desculpas por estar votando algo tão insuficiente, muito diferente dos anseios das pessoas. O atual Congresso não está habilitado para apresentar ao país um novo modelo político. Está contaminado, deveríamos transferir para o próximo Congresso a tarefa de formular esse modelo que atenda o interesse público — afirmou o senador Álvaro Dias.

Entre os petistas, também houve reação. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) criticou, na tribuna, a votação da “nano-reforma eleitoral”. Criticou a rapidez com que querem votar, disse que este tema deveria ser discutido com a sociedade, que o importante seria enfrentar temas como o financiamento das campanhas e limites de recursos para as campanhas.

— É preciso ver o que há nas entrelinhas (da reforma). A rapidez na tramitação, sem ouvir a sociedade, tira o papel de caixa de ressonância do Senado. E não há sequer certeza de que a Câmara aceitará as mudanças. O maior debate teria que ser em pontos como o limite de gastos das campanhas — disse Suplicy.
O senador Walter Pinheiro também disse que o PT vai resgatar as emendas que apresentou na votação da CCJ, entre elas a que acaba com os cabos eleitorais. Disse que o que estão querendo aprovar é nada, e que seria melhor deixar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) regulamentar os pontos que o Senado quer alterar.

— O grosso que está nessa reforma o TSE poderia fazer, já regulamentou a campanha no Twitter. Tínhamos que discutir coisas como o financiamento das campanhas. Isso não é reforma, é para discutir adesivo de carro, pelo amor de Deus! O TSE faz isso melhor que a gente. O PT vai resgatar as emendas que apresentou na CCJ, como a que acaba com cabo eleitoral, e apresentar de novo. Vamos para o voto — disse Pinheiro.

Senadores da bancada “independente” também questionaram o alcance limitado da reforma. Eles alegam que, em pouco tempo, será necessário promover alterações mais amplas, já que o que foi aprovado nesta segunda-feira não irá satisfazer a opinião pública.

— Só o nome que foi dado já é um acinte à opinião pública, que quer uma maxi-reforma. Essa reforma pequenininha não vai bastar. Daqui a pouco vamos ter que fazer algo maior, porque as pessoas vão voltar às ruas para exigir isso. É uma pena que estejamos desperdiçando tempo — disse o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).
— Isso não é minirreforma, é uma nanorreforma. Manter cabos eleitorais é “fake” de compras de votos. Não se tocou em financiamento de campanhas. Estamos vivendo tempos em que todos preferem ouvir a sociedade brasileira. Nós precisamos estar do lado da população — afirmou o senador Pedro Taques (PDT-MT).


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