sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Mudanças climáticas podem causar perdas de R$ 7,4 bilhões para agricultura, diz relatório

Vinícius Lisboa
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A agricultura deve ser o setor da economia mais afetado pelas mudanças climáticas ao longo do século 21, divulgou hoje (25) o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), na segunda parte do primeiro relatório nacional. De acordo com o estudo, o prejuízo do agronegócio com problemas climáticos pode chegar a R$ 7,4 bilhões em 2020 e R$ 14 bilhões em 2070. Até 2030, a produção de soja, por exemplo, pode ter perdas de até 24%.

"É uma preocupação em termos de impacto financeiro e para a questão de segurança. A ideia é que esses relatórios possam sinalizar aos tomadores de decisão a importância de agir agora. O custo da inação, de não fazer nada, vai ser maior do que se a gente começar a se prevenir", defendeu Andrea Santos, secretária executiva do painel.

O estudo prevê que as mudanças nos regimes de chuva e a elevação da temperatura média prejudique a agricultura principalmente em áreas secas, como o Nordeste, região em que a distribuição de chuvas pode cair até 50%, segundo o relatório. Um resultado desse processo seria a intensificação da pobreza e a migração para áreas urbanas, impactando a infraestrutura. Culturas como as do milho, do arroz, da mandioca, do feijão e do algodão seriam prejudicadas.

Outra ameaça à segurança alimentar prevista pelo relatório é a diminuição do potencial pesqueiro do Brasil, que pode chegar a até 10% nos próximos 40 anos. Andrea explica que, com o aumento da temperatura da água e a mudança na salinidade, espécies podem buscar regiões mais frias, afetando toda a costa nacional. O estudo aponta ainda a elevação do nível do mar como outra possível vulnerabilidade das cidades litorâneas.

"Além de inundações, esse aumento pode levar a colapsos no sistema de abastecimento e esgotamento, com o retorno de esgoto para as residências em um caso de transbordo dos sistemas de tratamento. Isso pode trazer prejuízos também para o lençol freático".

Nas grandes cidades, os prejuízos estimados serão na mobilidade e na habitação, que podem sofrer com tempestades mais frequentes no Sul e no Sudeste. Já biomas como a Amazônia e a Caatinga correm riscos de ter queda de até 40% dos índices pluviométricos (chuvas), afetando a biodiversidade. A alta da temperatura também pode aumentar a incidência de doenças, como a dengue e a leishmaniose, e, combinada a maiores radiações de raios ultravioletas e emissões de gás carbônico, as lavouras podem sofrer com mais pragas e doenças causadas por fungos.

O painel reúne 345 especialistas de universidades e institutos de pesquisa brasileiros e recebe o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Ministério do Meio Ambiente, além de outras entidades.

NO RESUMO/ENTENDA

Chuvas devem diminuir 40% na Caatinga até o  fim do século

O cenário para a Caatinga, bioma unicamente nacional, não é animador segundo o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC).

Dados do primeiro relatório do PBMC, divulgado hoje, é que as chuvas podem diminuir em até 40% ao longo deste século.

A Amazônia deve ter redução pluviométrica semelhante.
O fenômeno afetará a biodiversidade e aumentará os casos de doenças, como a leishmaniose e a dengue, e de pragas nas lavouras.

A agricultura deve ser o setor econômico mais afetado pelas mudanças climáticas, podendo ter prejuízo de até R$ 7,4 bilhões em 2020.
Até 2030, as perdas na produção de soja podem atingir 24%.

A agricultura no Nordeste, segundo o relatório, será umas das principais prejudicadas, intensificando a pobreza e a migração para as cidades.
E as áreas urbanas que já enfrentam sérios problemas de infraestrutura passarão a sofrer mais nos setores de habitação e mobilidade.

Fonte: Agência Brasil


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