A Arquidiocese do Rio está se desfazendo de parte do patrimônio da Igreja Católica para tentar saldar a dívida deixada pela Jornada Mundial da Juventude.
Um prédio em São Cristóvão, bairro da zona norte da cidade, está sendo vendido para a Rede D'Or de hospitais por R$ 46 milhões. No imóvel funciona, desde 2001, o hospital Quinta D'Or.
O prédio pertence à Casa do Pobre de Nossa Senhora de Copacabana, entidade ligada à igreja. Estava alugado à Rede D'Or desde a inauguração do hospital.
Com o fim da Jornada, em 28 de julho, o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, procurou empresários para conversar, em busca de uma solução para a dívida --cujo montante não foi revelado.
Uma das ideias que surgiram dessas conversas foi a venda do prédio onde, até os anos 80, funcionou o Hospital São Francisco de Paula, da Ordem de São Francisco dos Mínimos.
Há duas semanas, foi assinada uma escritura de promessa de compra e venda entre a Casa do Pobre de Nossa Senhora de Copacabana e a Rede D'Or.
Procurado pela Folha, o vice-presidente do comitê organizador da Jornada, dom Paulo Cezar Costa, hesitou em dar detalhes sobre a negociação. "Isso não está totalmente concretizado."
Mas o bispo reconheceu que está sendo feito um levantamento dos imóveis da igreja que poderão ser usados para quitar as dívidas.
"Não pensamos em vender muitos imóveis, até porque nem temos muitos imóveis para vender." A direção da Rede D'Or confirmou à Folha a compra do prédio.
Pouco antes do início da Jornada Mundial da Juventude, o comitê organizador estimou que o custo do encontro internacional de jovens católicos, que teve a presença do papa Francisco, pudesse custar até R$ 350 milhões, dos quais pouco mais de R$ 100 milhões viriam dos governos federal, estadual e municipal.
Segundo a igreja, a principal fonte de receita da Jornada estaria nas inscrições de 427 mil peregrinos, que pagaram entre R$ 100 e R$ 600 para ter direito a pacotes que incluíam alimentação, transporte e hospedagem.
A Arquidiocese do Rio, no entanto, não informa qual foi o valor arrecadado.
"Ainda vai levar algum tempo para chegar aos números definitivos da Jornada", disse dom Paulo Cezar.
'Não é tradição na igreja dar calote', afirma bispo
Vice-presidente do comitê organizador da Jornada, dom Paulo Cezar Costa diz que a arquidiocese está negociando com os fornecedores do evento que ainda não receberam seus pagamentos.
"Vamos honrar todos os nossos compromissos. Não é tradição na igreja dar calote em ninguém", disse.
As palavras do bispo servem de alento ao empresário Deni Mateus dos Santos, sócio da Ledcom, empresa que instalou 30 telões de LED no campo em Guaratiba, zona oeste do Rio.
Inicialmente, o local iria receber celebrações com presença do papa Francisco nos dias 27 e 28 de julho. Com a chuva, porém, o terreno virou lama e tudo foi transferido para Copacabana.
"Obedeci rigorosamente o prazo do contrato assinado e instalei todos os equipamentos no dia 20 de julho. A minha parte eu fiz", disse Deni, que aguarda o pagamento de duas parcelas de R$ 748 mil.
Responsável pela concepção do palco instalado em Guaratiba, o arquiteto João Uchôa é solidário às questões enfrentadas pela igreja.
"Não vejo nada de grave em um atraso de um mês e meio no pagamento. É uma situação normal."
Sócio da SRCOM, empresa responsável pela montagem do palco na praia de Copacabana, o cenógrafo Abel Gomes é mais um na lista de credores da arquidiocese.
"Realmente o pagamento está atrasado, mas estou esperançoso que vou receber", disse Gomes, sem revelar quanto ainda tem a receber.
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