O Jornal
“O GLOBO” em edição extra, do dia 02 de Janeiro de 1939 publicava na
sua primeira página a seguinte manchete: INTERDITADO O AVIÃO MALUCO
Severino Nogueira, Paraibano da cidade de Juazeirinho-Pb, em 1933 com
27 anos, sempre sonhou em ser aviador, foi para o Rio de Janeiro para
tentar o curso de piloto, naquela época, a aviação brasileira
praticamente não existia, as poucas aeronaves eram da PANAIR DO BRASIL, AIR FRANCE E DA CONDOR, que formavam os seus pilotos no exterior e fez o seu curso de piloto no Rio de Janeiro. Com interferência do Ministro da Viação, na época, Dr. JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA, que apresentou ao Comandante da Escola de Pilotos militares, o então Major da Aeronáutica HenriqueFontinelli,
solicitando ao Ministro que seu candidato frequentasse e concluísse o
curso de piloto naquela escola de formação entre 1933/1935, quando foi
para São Paulo para o estágio final do curso. Era o primeiro paraibano a
ser piloto civil cujo brevê obteve o número 94.
Recebeu a carta de piloto de aeronaves de recreio e desporto. Voltou
para Campina Grande. Ser piloto sem aeronave não havia sentido, passou a
se corresponder com vendedores dosEstados Unidos, e acabou fechando
negócio, efetuou a compra por 1.850 dólares, equivalente na época a
trinta e quatro contos de reis. A encomenda foi enviada para Recife e
ele mesmo fez a montagem do avião em Boa Viagem.
Vale ressaltar que o genitor do aviador, Sr. José Felismino Nogueira,
na época era farmacêutico, e proprietário de uma Usina de Beneficiamento
de Algodão e exportação para Campina Grande-Pb, um dos fundadores da
cidade de Juazeirinho, economicamente realizado.
De Boa Viagem, Severino Nogueira decolava no TAYLOR, marca da aeronave,
e sobrevoava o litoral. Testava os equipamentos e certificava-se da
velocidade e autonomia de vôo. Sentindo-se apto a viagens mais longas,
efetuou uma decolagem com destino a sua cidade natal, Juazeirinho, tendo
lá um pequeno campo de pouso por ele construído, retornando então a
João Pessoa para teste.
Numa dessas viagens ao cariri, levava um convidado, o Sr. Boanerges
Barreto, e sobrevoando a cidade de Soledade, foi quando o piloto notou
que o combustível estava no fim, e o recurso foi pousar no meio da rua, a
principal e larga avenida para aquele tipo de emergência. Onde havia o
combustível? Quem o socorreu foi o Sr. JOCA MOTA, dono
de um caminhão da cidade de Taperoá que estava ali naquele momento,
cedeu o combustível e momentos depois, ele decolava para Juazeirinho que
foi festivamente recebido.
O piloto ainda procedeu algumas adaptações na aeronave, como sistema de
carburação, tanque auxiliar de combustível, sistema de velas, entre
outras de caráter mecânico que diferenciou a originalidade da aeronave.
Já com certa experiência acumulada em vários vôos e confiança na sua
prática e competência. Idealizou uma viagem ao Rio de Janeiro para
tratar de negócios particulares.
Em 25 de dezembro de 1938, Partia de Campina Grande o aviador Severino
Nogueira em um avião teco-teco, prefixo PPTCK modelo “TAYLOR” com
destino ao Rio de Janeiro, com escalas em João Pessoa e no dia 26 voaram
para Recife, onde pousaram no campo de Tigipió. Após uma revisão
completa, estava tudo pronto para decolagem. Existiu no momento um
impasse. A polícia marítima impediu o vôo, pois suspeitavam de algum
plano político em face da ditadura naquela época, porém o pessoal do
exercito que conhecia o aviador solucionou a questão com a intervenção
do Dr. Jacy Toscano junto a Aeronáutica e no dia seguinte 27 de dezembro
teve início a viagem histórica para o Rio de Janeiro com escala em
Maceió.
Voava sobre o litoral numa altitude entre 1.000 e 1.200 metros. Como não tinha pressa de chegar ao destino, decolou rumo a capital alagoana, daí em diante pernoitou em Maraú, Salvador.
Depois de atravessar o Rio São Francisco, houve uma pane na aeronave,
desprendera-se uma vela do motor, ficando enganchada nas engrenagens, e
fez um pouso a beira-mar e procedeua recolocação da peça, fez os testes
iniciais e decolou sem problemas. Voava a 100 km por hora com autonomia
reduzida seguiu para Caravelas, Vitória e Campos no estado do Rio.
O aviador/mecânico criou um tanque auxiliar com uma lata de gasolina
adaptada no interior da aeronave, ligado por uma mangueira ao motor e
quando o reservatório principal dava sinais de esvaziamento, abria a
torneira auxiliar, essa operação era feita em pleno vôo. A sua Carta de
Navegação era simplesmente um ATLAS ESCOLAR e voava com a porta aberta para enxergar o solo.
Todos os jornais do Rio de Janeiro abriram manchetes para registrar a
proeza de um aviador maluco, assim diziam eles, pilotando um teco-teco
repleto de arranjos e emendas, acabava de efetuar um vôo histórico.
A imprensa americana também deu destaque ao feito de Severino Nogueira.
O Correio da Manhã noticiou que o DAC avistou por volta de 11 horas do
dia um objeto em direção ao campo, parecia um“URUBÚ “lá vem se
aproximando”, tomou a cabeceira da pista e posou suavemente em direção
ao Hangar”.
Os presentes se indagavam: quem é esse doido que vem aí dentro? Desceu
um homem moreno, moço, alegre, seguindo de uma mulher morena vestida de
preto, o piloto cumprimentou a todos que o aguardavam, o Diretor do DAC perguntou-lhe:
- De onde vemo Senhor? Estou chegando da Paraiba. Mas veio
voando nisso aí? Sim senhor. Não é possível. O senhor está brincando.
Deve ter vindo de Manguinhos. Que nada senhor. Eu sou da Paraiba e vim
de lá. Sou aviador há seis anos, pouso esse bichinho há mais de dois
anos e nunca me aconteceu nada. No Rio, Nogueira, o Aviador,
não teve sossego, levaram-no ao Aeroclube do Brasil que foi muito bem
recebido pela Diretoria e os sócios daquela agremiação. Cada explicação
era uma notícia.
Ele informou que gastou 300 litros de gasolina e 4 litros de
óleo, tempo gasto18 horas de võo em oito dias para conhecer as cidades e
dar descanso ao motor.
Nogueira pretendia voltar àParaíba na mesma aeronave, mas, foi
convencido a não voar antes de uma revisão que lhe custaria muito caro, e
como homem de negócios, vendeu o avião por 154 contos de reis (Moeda circulante na época) Nogueira não imaginava que fosse noticiar a presença da companheira de viagem, que para todos os efeitos ela se chamaria JULIETTA ALVES NOGUEIRA,
com quem mantinha laços amorosos, o que gerou protestos por parte da
sua legítima esposa, Maria Barros Nogueira, com desmentidos através de
telegramas, anos depois, Nogueira foi residir no Estado da Bahia, onde
foi proprietário da Fazenda BARRO ALTO, e foi lá que faleceu com mais de 70 anos.
texto de Geraldo Vital – com elementos publicados na mídia)
inclusive tenho em mãos uma cópia Xerox do Jornal O GLOBO DO ANO DE
1939.
Ele era meu bisavô
ResponderExcluirMeu paizinho!
ResponderExcluirEu devo a ele tudo que sou!
Obrigada Genilza Célia. Já ganhei o meu presente de aniversário.
Beijos!
Deus lhe abençoe!
Sensacional a história de Severino!
ResponderExcluirHoje, 23/11/2023, o jornalista Carlos Siqueira a contou na rádio CBN. Quando liguei o rádio ele estava concluindo, e eu só consegui ouvir um trecho do final, mas foi o suficiente para eu encontrar a matéria na internet.
Tenho uma memória que talvez esteja ligada a história de Severino. Atualmente tenho 61 anos. Quando era criança ouvia as pessoas entoarem um bordão que talvez fosse de marchinha de Carnaval, mais ou menos assim...
ResponderExcluir"Severino é um bom aviador toda vez que falta gasolina ele mija no motor"
Isso me intrigava pela questão lógica de que se faltasse gasolina no avião, como iria o piloto urinar no motor!?
Talvez a origem do bordão esteja nesses parágrafos da história que destaco abaixo...
"O aviador/mecânico criou um tanque auxiliar com uma lata de gasolina adaptada no interior da aeronave, ligado por uma mangueira ao motor e quando o reservatório principal dava sinais de esvaziamento, abria a torneira auxiliar, essa operação era feita em pleno vôo."