O Brasil terá pouco tempo para recuperar o fôlego depois da Copa do
Mundo: logo em seguida, o país será sede de outro evento internacional
de peso, a reunião de cúpula dos Brics.
Por influência da China, o encontro de líderes do grupo, previsto para
março ou abril deste ano, será aberto em 15 de julho, dois dias após a
final da Copa, conforme negociado entre os dois países. O evento será em
Fortaleza.
Terminada a cúpula dos Brics, no dia 16, o líder chinês, Xi Jinping, ficará no Brasil para uma visita de Estado de dois dias.
Fã declarado de futebol, Xi indicou que gostaria de ir ao Brasil no
período da Copa quando se encontrou com o vice-presidente, Michel Temer,
que esteve em Pequim em novembro.
Brendan Moran/Associated Press | ||
Xi Jinping chuta bola em um estádio na Irlanda, em 2012 |
Na última cúpula dos Brics, realizada em março de 2013, a presidente
Dilma Rousseff havia convidado Xi a assistir à final no Brasil.
Na época do encontro de Xi com Temer, diplomatas brasileiros
praticamente descartavam a hipótese de que a cúpula dos Brics
coincidisse com o Mundial, pois isso exigiria esforço redobrado em
segurança e logística.
Os chineses insistiram, alegando problemas de agenda: abril seria
inviável para Xi, pois nesse mês ele participará do Fórum de Boao,
conhecido como o "Davos asiático", em referência à tradicional
conferência da cidade suíça.
O Brasil preferia manter a cúpula e a visita de Xi longe da Copa, mas
acabou aceitando os argumentos chineses. Pelas normas dos Brics, o
anfitrião escolhe as datas.
As datas negociadas entre Brasil e China ainda têm de ser confirmadas
pelos demais países do Brics –Rússia, Índia e África do Sul–, mas não
precisam necessariamente da aprovação deles.
Apesar do interesse em futebol do líder chinês, não se sabe se Xi
planeja assistir a um jogo da Copa. Diplomatas brasileiros em Pequim
ainda não receberam nenhuma indicação nesse sentido.
A visita de Xi é cercada de enorme expectativa pelo governo brasileiro,
que vê nela uma chance de estreitar os laços e alavancar o interesse
chinês em futuras licitações de projetos de infraestrutura no país.
A visita também é simbólica. Marcará os 40 anos do restabelecimento das
relações diplomáticas. Em 2009, a China superou os EUA e se tornou o
maior parceiro comercial do Brasil.
Desde que assumiu a presidência, em março, Xi adotou como slogan "o
sonho chinês", que evoca nacionalismo e um desejo de afirmação do país
como potência.
Mas muitos torcedores chineses acharam que ele sonhou longe demais ao
dizer, há alguns meses, que esperava ver a China um dia na final da
Copa. A seleção chinesa não se classificou para o Mundial. Hoje ocupa a
92ª posição no ranking da Fifa.
Procurado pela Folha, o Itamaraty confirma que a cúpula dos Brics será realizada em julho, em Fortaleza, mas não especifica a data.
SEGUNDA VEZ
Esta não é a primeira vez que o Brasil se vê diante de um pedido chinês para mudar a data do encontro dos Brics.
O país sediou a 2ª Cúpula dos Brics em abril de 2010, em Brasília.
Naquela ocasião, o então líder chinês. Hu Jintao, havia chegado à
capital fazia poucas horas quando foi informado de que um terremoto
atingira a província chinesa de Qinghai.
O tremor deixou cerca de 600 mortos e mais de 10 mil feridos. Diante da
gravidade do episódio, Hu antecipou em 24 horas sua volta a Pequim, na
véspera da data prevista da reunião dos Brics.
Por causa disso, o governo brasileiro foi obrigado a realizar o encontro
junto com o fórum do Ibas, do qual participam Brasil, Índia e África do
Sul.
Colaborou PATRÍCIA CAMPOS MELLO, de São Paulo
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