Jesuíta e argentino, o novo papa, Francisco, coloca pela primeira vez na história, a poderosa Companhia de Jesus no coração político da Igreja Católica Romana.
Fundada pelo espanhol Inácio de Loyola (1491-1556) no contexto da Contra-Reforma, que tentava impedir o avanço protestante sobre os corações e mentes cristãos, a Companhia teve papel fundamental na evangelização do Novo Continente.
Foram da Companhia os jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, fundadores da vila de São Paulo, em 1554. Consoante os métodos característicos dos jesuítas, o povoado erigiu-se em torno de um colégio.
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Em troca, a Companhia exigia dos pagãos que se organizassem em famílias nucleares e "cristãs", contrárias à cultura indígenas.
Muito antes do Concílio Vaticano 2º permitir que as missas fossem celebradas nas línguas vernaculares, os jesuítas empenhavam-se em aprender o tupi-guarani, para se comunicar com seu público-alvo. Não por acaso, a primeira gramática do tupi-guarani foi sistematizada pelo padre Anchieta.
A organização em escolas e o trabalho missionário fizeram com que saísse da Companhia um dos mais influentes oradores e políticos do Brasil colonial, o padre Antonio Vieira (1608-1597).
Segundo Mateus Soares de Azevedo, 53, mestre em história das religiões pela USP, "a espiritualidade mais vigorosa, ousada e aventureira da Companhia fazia com que ela se tornasse uma ferramenta poderosa na expansão do catolicismo, contrariamente ao caráter mais contemplativo de outras congregações, como a dos beneditinos".
Globalizada, a Companhia desenvolveu uma flexibilidade bem dosada, a bem da defesa férrea dos princípios da religião. Como a imagem do Cristo crucificado --tão cara à iconografia católica-- horrorizasse os indígenas (que não compreendiam um Deus morto e torturado), durante todo o período inicial da catequese, os jesuítas abriram mão de colocá-la nas igrejas.
Na China, os padres vestiam-se não com batinas mas com trajes de letrados confucianos, como fazia o padre Matteo Ricci (1552-1610).
Segundo Soares de Azevedo, essa presença global, o respeito relativo às diferentes culturas ("ainda que fossem consideradas inferiores", ressalta), poderia, ao menos no que diz respeito à tradição da Companhia, habilitar o novo papa para os desafios de um catolicismo assediado pelo secularismo e pela dessacralização da sociedade.
"Nelson Rodrigues, na época do Concílio Vaticano 2º, disse que o Brasil seria o maior país ex-católico do mundo. O que já estamos vendo é a Europa já transformada no continente mais ex-católico do mundo. E a América Latina caminha rapidamente para isso", lembra o historiador.
FONTE:FOLHA DE SÃO PAULO
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