terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Moradores de cidade russa contam como viram explosão de meteoro


SHEILA D´AMORIM
ENVIADA ESPECIAL A TCHELIABINSK
Três dias depois do meteoro, o visitante ocasional a Tcheliabinsk não percebe imediatamente que essa cidade russa de 1,1 milhão de habitantes aos pés dos montes Urais, a 1.500 km de Moscou, foi a mais atingida pelo maior evento celeste do tipo em um século. Até olhar para as janelas ou falar com qualquer pessoa.
As ruas estão até movimentadas, cortesia do inverno "camarada" que ontem registrava 4ºC negativos no meio da tarde. As ruas planificadas e os prédios típicos soviéticos não traem a grande explosão ocorrida na sexta-feira.
Aí entram as janelas. No lugar dos tradicionais vidros duplos, quebrados com a onda de choque do meteoro, uma miríade de coberturas para manter o frio de fora: filme plástico, madeira, papelão, material de propaganda retirado de outdoors forram as estruturas empenadas.
Sheila D'Amorim/Folhapress

Estadio de patinação no gelo danificado após explosão de meteoro, em Tcheliabinsk
Ainda que o frio, que nesta época do ano costuma ficar abaixo de 10ºC negativos, não seja dos piores, a maior parte dos escritórios da área central está desocupada.
teorias e histórias
Contar gesticulando sua história ou desenvolver alguma teoria conspiratória, hábitos russos desde os tempos da União Soviética, são outra grande marca do meteoro.
Se você não entende russo, há sempre um celular com uma foto, um gesto para tentar descrever o momento, um machucado no corpo, mesmo que seja mínimo.
"Eu me feri, mas foi só isso", diz Maxim Novokshonov, 34, que trabalha como intérprete e tradutor e se cortou levemente. "Mas algumas pessoas se feriram gravemente", emenda, destacando que não tem dúvidas de que se tratou de um meteoro. "Eu vi a luz, o rastro, o barulho", conta.
Outros suspeitam das razões do governo para isolar a região na qual caíram meteoritos resultantes da explosão --um lago a cerca de 60 km do centro de Tcheliabinsk. O motivo mais provável é evitar a corrida por meteoritos caríssimos, que já apareciam em possíveis fraudes na internet.
Sheila D'Amorim/Folhapress

Masha Markova, 30, taxista, diz que estava dirigindo na hora do clarão causado por meteoro em Tcheliabinsk
A região é um centro nuclear e militar importante, além de viver da indústria pesada, o que estimula suspeitas sobre testes misteriosos, como o político ultranacionalista folclórico Vladimir Jirinovski já aventou.
Sergei Ershov, dono de uma loja de roupa e cristais, era mais prosaico: mostrava animado a foto que conseguiu tirar do rastro deixado no céu azul pelo meteoro.
A motorista de táxi Masha Markova, 30, diz que estava dirigindo na hora do clarão. Com a explosão e o tremor, pensou que o pneu do carro havia furado, mas percebeu que havia gente correndo de pijamas na rua, em pânico.
ESTRAGOS
Houve danos pontuais mais consistentes, não tão aparentes para o visitante da área central. O ginásio do Traktor, um dos times de hóquei mais famosos da região, está interditado.
O engenheiro responsável pela recuperação do ginásio, Vadim Jkov, diz que o jogo do próximo domingo está garantido. O local ficou famoso: é de sua câmera de segurança a imagem de uma porta de metal de quatro metros de altura sendo arrebentada pelo deslocamento do ar.
Sheila D'Amorim/Folhapress

Sergei Ershov, dono de uma loja de roupa e cristais, mostra foto que conseguiu tirar do rastro deixado no céu azul pelo meteoro
No lugar, foi colocada uma cobertura provisória de plástico azul. A nova porta custará o equivalente a R$ 7.000.
Esporte popular na cidade, a patinação no gelo teve seu estádio interditado, com toda cobertura lateral danificada. Outro prédio bastante afetado foi a fábrica de zinco da cidade, que precisará passar por ampla reforma. Ninguém se feriu, contudo.
Na Universidade Estadual dos Montes Urais, boa parte das janelas na fachada principal estão cobertas com madeira e sendo substituídas.
Ksenia Seleziova, que estuda línguas, disse que estava na aula quando ouviu o barulho. "Foi desesperador, e todos correram."
Viktoria Nagumanova, que faz curso técnico e mora no alojamento ao lado da universidade, conta que estava no quarto com uma amiga quando tudo tremeu.
Correram para fora e até agora não voltaram, devido ao frio que entra pelas janelas quebradas --a solução foi morar com os vizinhos até o conserto ser feito.
FONTE:FOLHA DE SÃO PAULO

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