SHEILA
D´AMORIM
ENVIADA ESPECIAL A TCHELIABINSK
ENVIADA ESPECIAL A TCHELIABINSK
Três dias
depois do meteoro, o visitante ocasional a Tcheliabinsk não percebe
imediatamente que essa cidade russa de 1,1 milhão de habitantes aos pés dos
montes Urais, a 1.500 km de Moscou, foi a mais atingida pelo maior evento
celeste do tipo em um século. Até olhar para as janelas ou falar com qualquer
pessoa.
As ruas
estão até movimentadas, cortesia do inverno "camarada" que ontem
registrava 4ºC negativos no meio da tarde. As ruas planificadas e os prédios
típicos soviéticos não traem a grande explosão ocorrida na sexta-feira.
Aí entram as
janelas. No lugar dos tradicionais vidros duplos, quebrados com a onda de
choque do meteoro, uma miríade de coberturas para manter o frio de fora: filme
plástico, madeira, papelão, material de propaganda retirado de outdoors forram
as estruturas empenadas.
Sheila D'Amorim/Folhapress
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Estadio de patinação no gelo danificado após
explosão de meteoro, em Tcheliabinsk
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Ainda que o
frio, que nesta época do ano costuma ficar abaixo de 10ºC negativos, não seja
dos piores, a maior parte dos escritórios da área central está desocupada.
teorias e histórias
teorias e histórias
Contar
gesticulando sua história ou desenvolver alguma teoria conspiratória, hábitos
russos desde os tempos da União Soviética, são outra grande marca do meteoro.
Se você não
entende russo, há sempre um celular com uma foto, um gesto para tentar
descrever o momento, um machucado no corpo, mesmo que seja mínimo.
"Eu me
feri, mas foi só isso", diz Maxim Novokshonov, 34, que trabalha como
intérprete e tradutor e se cortou levemente. "Mas algumas pessoas se
feriram gravemente", emenda, destacando que não tem dúvidas de que se
tratou de um meteoro. "Eu vi a luz, o rastro, o barulho", conta.
Outros
suspeitam das razões do governo para isolar a região na qual caíram meteoritos
resultantes da explosão --um lago a cerca de 60 km do centro de Tcheliabinsk. O
motivo mais provável é evitar a corrida por meteoritos caríssimos, que já
apareciam em possíveis fraudes na internet.
Sheila D'Amorim/Folhapress
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Masha Markova, 30, taxista, diz que estava
dirigindo na hora do clarão causado por meteoro em Tcheliabinsk
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A região é
um centro nuclear e militar importante, além de viver da indústria pesada, o
que estimula suspeitas sobre testes misteriosos, como o político
ultranacionalista folclórico Vladimir Jirinovski já aventou.
Sergei
Ershov, dono de uma loja de roupa e cristais, era mais prosaico: mostrava
animado a foto que conseguiu tirar do rastro deixado no céu azul pelo meteoro.
A motorista
de táxi Masha Markova, 30, diz que estava dirigindo na hora do clarão. Com a
explosão e o tremor, pensou que o pneu do carro havia furado, mas percebeu que
havia gente correndo de pijamas na rua, em pânico.
ESTRAGOS
Houve danos
pontuais mais consistentes, não tão aparentes para o visitante da área central.
O ginásio do Traktor, um dos times de hóquei mais famosos da região, está
interditado.
O engenheiro
responsável pela recuperação do ginásio, Vadim Jkov, diz que o jogo do próximo
domingo está garantido. O local ficou famoso: é de sua câmera de segurança a
imagem de uma porta de metal de quatro metros de altura sendo arrebentada pelo
deslocamento do ar.
Sheila D'Amorim/Folhapress
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Sergei Ershov, dono de uma loja de roupa e
cristais, mostra foto que conseguiu tirar do rastro deixado no céu azul pelo
meteoro
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No lugar,
foi colocada uma cobertura provisória de plástico azul. A nova porta custará o
equivalente a R$ 7.000.
Esporte popular
na cidade, a patinação no gelo teve seu estádio interditado, com toda cobertura
lateral danificada. Outro prédio bastante afetado foi a fábrica de zinco da
cidade, que precisará passar por ampla reforma. Ninguém se feriu, contudo.
Na
Universidade Estadual dos Montes Urais, boa parte das janelas na fachada
principal estão cobertas com madeira e sendo substituídas.
Ksenia
Seleziova, que estuda línguas, disse que estava na aula quando ouviu o barulho.
"Foi desesperador, e todos correram."
Viktoria
Nagumanova, que faz curso técnico e mora no alojamento ao lado da universidade,
conta que estava no quarto com uma amiga quando tudo tremeu.
Correram
para fora e até agora não voltaram, devido ao frio que entra pelas janelas
quebradas --a solução foi morar com os vizinhos até o conserto ser feito.
FONTE:FOLHA DE SÃO
PAULO
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