O papa Bento 16
disse na manhã desta quarta-feira, em sua última audiência pública como papa,
que, a despeito da renúncia --que só encontra paralelo quase 600 anos atrás--
não vai voltar à sua vida privada.
"Quem
assume o ministério de São Pedro não tem mais qualquer privacidade. Ele sempre
pertence totalmente a todos e a toda a igreja. Não retorno à vida privada, a
uma vida de viagens, encontros, conferências. Não abandono a cruz, sigo de uma
nova maneira com o Senhor crucificado", disse Bento 16 na praça de São
Pedro, no Vaticano.
"Sua
vida é, por assim dizer, totalmente excluída da esfera privada. Eu pude
experimentar isso e experimento agora."
Bento 16
disse ainda que não vai se afastar da igreja, pois continuará a fazer parte de
encontros religiosos. "O papa pertence a todos, e todos pertencem a ele.
Minha decisão de renunciar ao exercício ativo do ministério não revoga a este
cargo. Continuarei tendo encontros e participando. Em orações, continuo, por
assim dizer, no recinto de São Pedro", afirmou.
Última audiência do Papa Bento 16
·
Filippo Monteforte/AFP
Multidão de fiéis com
cartazes e faixas aguardam a última audiência geral de Bento 16, na praça de
São Pedro, no Vaticano...
Bento 16
disse também agradeceu aos fiéis pela "compreensão com qual receberam uma
notícia assim tão importante". Disse que está "consciente da
gravidade e novidade" da renúncia, porém que tomou a decisão com
"profunda serenidade de espírito". "Nesses últimos meses senti
que minhas forças tinham diminuído. E pedi que Deus me iluminasse para me
ajudar a tomar a decisão mais correta, para o bem da igreja."
Essa é a
primeira vez em 598 anos que um papa renuncia ao cargo. O último a fazê-lo foi
Gregório 12, em 1415. Apesar da decisão, tomada no último dia 11, Bento 16
disse que jamais se sentiu sozinho no ministério de São Pedro.
DIFICULDADES
Bento 16
reconheceu que, em seus quase oito anos de pontificado, teve momentos de
alegria e luzes, mas também "momentos difíceis". "O Senhor nos
deu muitos dias de sol e ligeira brisa, dias nos quais a pesca foi abundante,
mas também momentos nos quais as águas estiveram muito agitadas e o vento
contrário, como em toda a história da Igreja, e o Senhor parecia dormir."
O papa
disse que se sentiu como são Pedro com os apóstolos na barca, no lago da
Galileia, e que sempre soube que o Senhor estava na barca.
"E
sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas Sua, e não a
deixa se afundar. É Ele quem a conduz, certamente, através dos homens que
elegeu. Esta é uma certeza que nada pode ofuscar e é por isso que meu coração
está cheio de agradecimento a Deus, porque não me fez faltar a toda a Igreja e
também seu consolo, sua luz e seu amor", acrescentou.
FONTE:FOLHA DE SÃO PAULO
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