João Victor, que está na sexta série e também estuda piano, teve nessa quarta seu primeiro dia de aula
Os gêmeos e aspirantes a músicos João e Ana Vitória: batalha começou depois que instituição em que estudavam encerrou as atividade. |
Viúva,
com dois bebês gêmeos, Viviane Souza Alvim, na época com 30 anos, foi à
luta na fé e no braço para superar o acidente de automóvel que lhe
arrancou o marido. No colo, João Victor e Ana Vitória, nascidos
prematuros, com 6 meses. A menina não teve complicações. Já o irmão, com
descolamento da retina, perdeu a visão. Tempos de batalha, de força e
de união da família. Hoje aos 11 anos, os dois pequenos seguem sendo
“orgulho e razão de viver” de Viviane. Ana Vitória, além do sexto ano do
ensino fundamental, estuda violino. João, na mesma série, se dedica ao
piano. Depois de nova jornada de sufoco enfrentada pela mãe, diarista,
ele está em fase de adaptação, após finalmente conseguir se matricular
em uma nova escola e participar, nessa quarta-feira, do primeiro dia de
aula.
Com cópias de documentos em mãos, entre eles uma liminar,
Viviane se mostra revoltada com as dificuldades encontradas para levar
João Victor de volta à sala de aula, desde o fim do ano passado. A
via-crúcis começou em dezembro, com o fechamento da instituição de
ensino particular em que os gêmeos estudavam. Segundo a mãe, havia a
garantia de que todos os alunos tinham matrícula assegurada no Colégio
Batista Mineiro. “Estavam cientes da deficiência do João Victor. Fiz o
pré-cadastro dos dois, que foi aceito, e quando fui fazer a matrícula,
disseram que apenas a Ana Vitória estava garantida. A alegação deles foi
de que ele não tinha ido bem em uma avaliação de matemática”, diz. Em
nota, a instituição de ensino argumentou que não teria condições
adequadas para promover o desenvolvimento do aluno.
No dia 3, com
Ana Vitória de volta às aulas e João Victor ainda fora da escola,
Viviane procurou o auxílio da Defensoria Pública. Dois dias depois, de
acordo com a diarista, os defensores foram comunicados de nova negativa
por parte da escola. A luta prosseguiu e, no dia 12, Viviane obteve
liminar favorável à matrícula. “Ainda procurei dar à escola o prazo para
que fosse comunicada e só fui fazer a matrícula na sexta-feira, dia 21,
pela manhã. Lá, ouvi mais uma vez que eles não iriam aceitar meu filho.
Meu João foi negado três vezes”, revolta-se.
Diante da nova
recusa, Viviane foi até a delegacia do Bairro Floresta, na Região Leste
de Belo Horizonte, e fez boletim de ocorrência. Ela afirma que só depois
disso, na parte da tarde, às 17h23, de acordo com o e-mail apresentado
por ela, o colégio a convocou, enfim, para fazer a matrícula de João
Victor. Porém, o desgaste foi tanto que, depois de conversar com o
filho, Viviane decidiu buscar outra instituição. “Entendi que meu filho
não seria bem-vindo naquela escola.”
Mas ela está decidida a levar
o assunto adiante na Justiça. “Vou fazer de tudo para que nenhum
deficiente passe pelo que meu filho passou”, afirma. Na sala de casa,
antes de trazer dois copos d’água para os visitantes e tocar Beethoven
no teclado, João pede para falar. “Vou me formar advogado e juiz e vou
voltar a essa escola e perguntar: ‘Lembram-se de mim?’”.
Dificuldade
Procurado
pelo Estado de Minas, o Colégio Batista Mineiro se manifestou apenas
por meio de nota, na qual afirma que “ao longo de seus 96 anos, tem
atuado e cumprido a sua missão educacional de forma responsável e
cuidadosa. Para isso, intervém e acompanha o desenvolvimento de todos os
seus alunos.” A escola nega que recuse estudantes portadores de
deficiência: “Nos casos daqueles que possuem necessidades educacionais
especiais, a instituição estabelece permanente diálogo com as famílias e
os educadores da escola.
Adotamos uma política de inclusão educacional
responsável.” Em relação a João Victor, o colégio argumenta que teria
dificuldade de atender às necessidades do aluno, mas que mesmo assim se
dispôs a aceitar a matrícula. “Informamos para a mãe as limitações da
instituição para oferecer, neste momento, as condições necessárias e
essenciais ao desenvolvimento adequado do seu filho. Contudo, na última
sexta-feira (21/2/2014), a mãe foi contatada para comparecer à escola e
efetivar a matrícula”, conclui o texto.
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